quinta-feira, 21 de julho de 2016

Produção de 'biojoias' gera renda para artesãos da Flona do Tapajós



Brincos, colares e pulseiras são feitos com sementes da floresta. Peças variam de R$ 5 até R$ 60.

Por Aritana Aguiar

Do G1 Santarém

Biojoias são confeccionadas com sementes de árvores (Foto: Aritana Aguiar/G1)

A agricultura, extrativismo e turismo não são mais as únicas fontes de renda para os moradores das comunidades da Floresta Nacional (Flona) do Tapajós,em Belterra, oeste do Pará. Eles têm outra opção: a produção de "biojoias". Com sementes de árvores da floresta, eles produzem acessórios como  brincos, colares e pulseiras e vendem para turistas visitantes.

Peças variam de R$ 5 até R$ 60
(Foto: Aritana Aguiar/G1)

Para facilitar e melhorar o rendimento dos moradores foi realizado um curso de artesão em biojoias na comunidade Jamaraquá, que faz parte da Flona, no período 30 de novembro de 2015 a 8 de janeiro de 2016. A proposta foi ensinar os que não sabiam produzir os produtos e qualificar aqueles que exerciam a atividade.

O curso ofertado pelo Pronatec em parceria entre Ministério do Meio Ambiente, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade(ICMBio), MEC e MDS buscou também contribuir com a perpetuação dos costumes e valorização da natureza. Participaram 25 pessoas das comunidades Jamaraquá, Maguari, São Domingos, Pedreira e Piquiatuba. Os participantes receberam o certificado de artesão e no final desfilaram com as joias confeccionadas por eles.

O chefe da Flona, José Risonei da Silva, ressaltou que o uso de material da própria floresta é de forma sustentável. “As comunidades têm bastante visitação turística e se encantam pelo local. É importante eles conhecerem um pouco da cultura das comunidades e gerarem a renda para essas comunidades de forma que não agrida a natureza”.

Fazer esses produtos de origem da natureza é muito importante. É preciso preservá-la e com isso sempre temos os materiais para contribuir com nossa renda"

Artesã, Iraneide Azevedo

Silva informou ainda que além das vendas nas comunidades, algumas famílias produtoras são vinculadas a Cooperativa Mista no Tapajós (Coomflona) e por isso muitas biojoias são vendidas no município de Santarém, no oeste do estado e na vila de Alter do Chão.

A artesã Iraneide Azevedo da comunidade Maguari, atua há 10 anos na produção das joias artesanais. Ela fez o curso que serviu de aperfeiçoamento. “Sempre gosto de inovar, fazer peças diferentes que chama atenção do cliente. Fazer esses produtos de origem da natureza é muito importante. É preciso preservá-la e com isso sempre temos os materiais para contribuir com nossa renda”.

Aos 70 anos, a artesã em biojoias Maria Anaíde Rodrigues buscou mais conhecimentos na confecção dos adereços. Em casa, ela tem uma exposição dos produtos criados. “Os turistas vão lá e compram. Já tem um tempo que aprendi a fazer as joias, e para mim é importante, porque na época de férias consigo vender melhor e dá um bom dinheiro”.

Colar diferente atrai a atenção do turista
(Foto: Aritana Aguiar/G1)

Busca das sementes 
A busca das sementes na floresta não é tão simples, pois exige esforço dos artesãos. A instrutora do curso, Quezia Oliveira, explicou que é preciso entrar na mata para coleta das sementes que caem no chão, outros tipos são encontrados na beira de igarapés.

Tipos de sementes
Na floresta é possível encontrar sementes saboneteira, morototó, jutaí, lágrimas de nossa senhora, caracaxá, entre outras. Além de disso, tem a semente olho de boi encontrada nas margens de igarapés, pau-brasil amarelo grande encontrado nas beiras de praias da Flona, dentre outras, segundo a instrutora.

Processo de fabricação
De acordo com Quezia, mesmo o produto sendo natural é preciso beneficiá-lo antes do processo de confecção. “Abrimos as sementes, depois passam pelo processo de lavagem e são colocadas em água morna, aquelas que boiarem não servem para produção, depois são colocadas para secar”, contou.

É necessário imaginação e criatividade para produzir as peças (Foto: Aritana Aguiar/G1)

Apesar de serem produtos naturais, alguns itens que compõe a biojoia são artificiais, como a argola do brinco, fecho do colar, da pulseira e fio encerado, itens necessários para finalização e uso, mas não tiram o valor do acessório artesanal.

Após esse trabalho de beneficiamento e todos os itens em mãos, é preciso usar a imaginação e ser criativo para produzir biojoias diferentes, que agradem os visitantes. A artesã Iraneide afirma que o acessório deve ser o máximo natural. “Colocar a semente, evitar o máximo de artificial. Quando os turistas de fora olham as joias produzidas em artesanato eles gostam muito e compram”.

A artesã Maria conta que o tempo de duração para fabricar um par de brinco, pulseira e colar, é variado. “Tudo depende do tipo e o tamanho, às vezes dura 20 minutos para montar um brinco”.

Maria Anaíde desfila com os brincos e colar confeccionados por ela (Foto: Aritana Aguiar/G1)

Preço para venda
Os preços das biojoias variam de acordo com os tipos de semente, grau de dificuldade na confecção e até mesmo o risco na coleta das sementes, segundo Quezia. “Há sementes que não estão na época e por isso a dificuldade para encontrar é maior. Ainda tem a questão do risco de ser atacado por algum animal peçonhento dentro da floresta e isso vai valorizando o produto”, justificou.

Dona Maria vende brincos e pulseira simples no valor de R$ 5, cada. Um colar simples custa R$ 20, mas os itens podem ser vendidos até R$ 60. A intenção é oferecer a um preço acessível aos turistas ao mesmo tempo valorizar o trabalho e esforço do artesão

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