Rio - Pressionada por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora
(UPP) da Rocinha que a acusavam de envolvimento com o tráfico de drogas,
uma adolescente garante que foi obrigada a ficar nua diante deles.
Outra vítima alega ter tido a casa invadida e um PM, para afrontá-la,
abriu a geladeira, pegou um refrigerante e refestelou-se em sua cama. Um
outro jovem denuncia que foi espancado.
Os relatos estarrecedores de violência policial
fazem parte de investigação do Ministério Público sobre improbidade
administrativa contra policiais subordinados ao major Édson Santos,
ex-comandante da unidade. Os casos vieram à tona após o desaparecimento
do pedreiro Amarildo de Souza, visto pela última vez deixando a sede da
UPP em 14 de julho.
Para fechar o cerco aos traficantes,
testemunhas contam que a ‘tropa’ de Édson ameaçava forjar flagrantes de
drogas contra quem não colaborasse com informações sobre a localização
de armas e entorpecentes na favela.
PM que estava de serviço no dia do desaparecimento de Amarildo usa capuz e máscara durante reconstituição realizada pela DH
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
O soldado Douglas Roberto Vital Machado é
apontado como braço-direito de Édson nas ações. Eles e mais três PMs são
investigados pelo desaparecimento de Amarildo.
As sessões de violência não livraram nem uma
grávida. Por estar brigando com o marido, ela revelou que levou dois
choques de pistola elétrica. O abuso foi registrado na 15ª DP (Gávea).
Muitas vítimas garantem que têm condições de reconhecer os PMs.
O MP estuda pedir à PM a relação dos militares
que trabalharam na Rocinha no comando do major Édson. Ao final das
investigações, os policiais podem perder o cargo.
‘Posso matar qualquer um’
Frases como ‘Somos fechados com o major’ e
‘Posso matar qualquer um’ seriam usadas com frequência por policiais da
UPP Rocinha para impedir que vítimas denunciassem os supostos abusos dos
PMs à Polícia Civil.
Em outros relatos ao MP, o soldado Vital é
acusado de comandar sessões de tortura. Em um dos casos, ele teria
detido um jovem.
Durante um espancamento, teria dito: “Quero ver
se esse veado vai aguentar esse cabo de vassoura”. Para concluir as
investigações, o Ministério Público quer ouvir outros depoimentos de
vítimas. Muitas delas já foram ouvidas na própria Favela da Rocinha.
Comando da PM soube de denúncias contra policiais
Parte dos relatos de violência na Rocinha foi
feita também à Comissão de Segurança Pública e Privação da Liberdade do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos. Foram ouvidas vítimas e
testemunhas em 24 de abril e 4 de maio.
Os casos foram levados ao conhecimento do
comando da PM em reunião no dia 17 de maio, dois meses antes do
desaparecimento de Amarildo ter ganho repercussão em todo o país.
De acordo com as denúncias à Comissão, policias
da UPP usavam toucas ninja para não serem reconhecidos e também
retiravam a identificação da farda.
Testemunhas contaram ainda que os militares
proibiam festas, cobrariam taxas de serviço de mototáxi, além de terem
usado a antiga casa do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem,
na localidade Cachopa, para praticar tortura. Nem está preso em unidade
federal.
Fonte: Odia
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