Prefeito Ranilson do Prado |
O Ministério Público Federal (MPF) recebeu provas que a prefeitura estaria
autorizando a depredação do antigo hospital de Fordlândia.
Nos anos 30,
o fundador da Ford Motors, Henry Ford, teve a ideia de transformar a Amazônia
em um grande centro de produção de borracha para suprir o mercado americano.
Construiu uma cidade, Fordlândia, hoje distrito do município de Aveiro, no
Pará. A cidade chegou a ter fábricas, restaurantes, praças, cinemas,
dormitórios e funcionários, mas o projeto não deu certo. E, devido ao descaso
do poder público, até os edifícios que sobraram como testemunhas dessa história
também parecem condenados a desaparecer.
Apesar de a
importância desse conjunto urbano ser tanta que está em processo de tombamento
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e de o
município de Aveiro ter se comprometido a preservá-lo, assinando acordo com o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, o
Ministério Público Federal (MPF) recebeu provas que a prefeitura estaria
autorizando a depredação do antigo hospital de Fordlândia. E mais: de acordo
com o Iphan, a prefeitura também não tem preservado outros prédios, como o
galpão do trapiche e as casas da Vila Americana, localizada em Fordlândia.
Essas
denúncias levaram o procurador da República Marcel Brugnera Mesquita a
encaminhar recomendação ao prefeito de Aveiro, Ranilson Araújo do Prado,
estabelecendo prazo de 30 dias para que o município adote as medidas de
preservação determinadas pelo Iphan. O prazo começa a valer assim que o
prefeito for oficialmente notificado.
Caso a
prefeitura não responda à recomendação ou não adote as medidas recomendadas, o
MPF pode vir a tomar iniciativas administrativas e judiciais para garantir a
preservação do patrimônio histórico e para punir os responsáveis por eventuais
danos materiais e/ou morais cometidos pela administração municipal.
Saiba
mais - O historiador Greg Grandin, professor de
história da América Latina na Universidade de Nova York, narrou a história de
Fordlândia no livro "Fordlândia - Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de
Henry Ford na Selva", obra finalista na categoria história do prêmio
Pulitzer de 2010, incluída entre os cem livros notáveis do ano no ranking do
jornal The New York Times, e eleita o melhor livro do ano pelos jornais Chicago
Tribune e Boston Globe.
Também em
2010, a edição 45 da revista Piauí publicou artigo de Gradin em que o autor
apresenta alguns episódios dessa história. Veja alguns trechos:
"A
revolta começou numa segunda-feira. Naquela noite, James Kennedy telegrafou
para Juan Trippe, o lendário fundador da Pan American Airways, em Nova York,
para lhe contar que Fordlândia estava 'sob o domínio da plebe'. Trippe havia
aberto uma linha entre Belém e Manaus, com uma escala em Santarém, e Kennedy
perguntou se um dos aviões poderia transportá-lo até a plantação com alguns
soldados. Se não partissem logo, alertou Kennedy, 'em 24 horas o lugar seria
uma ruína completa'. Trippe concordou imediatamente.
[…] Uma
delegação escolhida pelos funcionários recebeu o tenente com uma lista de
exigências à empresa. A primeira delas era a demissão de Ostenfeld. As outras
estavam ligadas ao direito de livre circulação. Os trabalhadores exigiam comer
o que quisessem e onde quisessem. Estavam cansados de comer pão de trigo
integral e arroz integral 'por motivos de saúde', segundo as instruções de
Henry Ford. Queriam frequentar os bares e restaurantes que surgiram em torno da
plantação e entrar em embarcações, supostamente para comprar bebidas, sem
precisar pedir permissão. Os solteiros reclamavam das acomodações: cinquenta
deles amontoados em um dormitório".
A íntegra do
artigo de Greg Grandim está no site da Piauí ( acesse aqui).
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