Ruth Ramos foi presa no bairro do Maracanã. Osane Silva carrega seu filho Vítor, após ser resgatado
Uma investigação minuciosa levou a Superintendência Regional de Polícia Civil do Baixo Amazonas a desvendar o seqüestro de um bebê, que aconteceu em Santarém, oeste do Pará, na manhã de quarta-feira, 09. O furto do bebê deixou funcionários e pacientes do Hospital Municipal de Santarém (HMS), apreensivos.
Segundo a Polícia Civil, uma mulher que dois dias antes havia se passado como amiga da mãe da criança e, que foi apontada como a principal suspeita de cometer o crime, foi presa e conduzida para a 16ª Seccional da Polícia Civil, ainda na tarde de quarta-feira. A mulher, identificada como Ruth de Sousa Ramos, de 23 anos, foi encontrada juntamente com a criança, em uma residência na Rua Rocha Negra, no bairro do Maracanã, em Santarém.
Após a mãe dar à luz a um bebê do sexo masculino, por volta de 23h, de terça-feira, 08, a mulher que quando era questionada sobre a sua presença no HMS, se dizia ser acompanhante de paciente, aos poucos foi conquistando a confiança da mãe do recém-nascido, trocou a fralda do bebe, fez um pequeno passeio, e retornou ao quarto. Em uma segunda tentativa pediu para passear novamente, saiu calmamente pela recepção como se o bebê fosse dela, caminhou pelas avenidas Presidente Vargas e Barão do Rio Branco, rumo ao centro da cidade e desapareceu.
Familiares da mãe da criança acionaram a Polícia Civil, que esteve no Hospital Municipal e colheu depoimento da mãe do bebê e de testemunhas. Guarnições da Polícia Civil e Polícia Militar fizeram rondas em vários bairros de Santarém em busca da criança e da mulher que a raptou.
De acordo com o delegado Alexandro Napoleão, que preside o inquérito, existem 16 câmeras instaladas no entorno do Hospital Municipal e que ajudaram a Polícia na investigação do crime. “Levantamos todas as informações junto às pessoas que tiveram contato com a mulher. As câmeras de segurança foram analisadas e trabalhamos para identificar a mulher. Estivemos com duas equipes de policiais civis e uma equipe de papiloscopistas da Superintendência Regional de Polícia Civil do Baixo Amazonas que elaboraram também o retrato falado da mulher”, informou o delegado Alexandro.
Segundo ele, a mulher se apresentou como uma paciente no HMS, e com isso começou a conquistar a confiança das demais mães que estavam internadas. “Ela sondou outras mães que também estavam com crianças recém-nascidas, mas de acordo com essa avaliação que ela fez, a que estava em condições maior de vulnerabilidade era a Osane”, contou Dr. Alexandro.
Ele acrescentou ainda que a Ruth é moradora de Belterra, mas foi encontrada na residência de parentes em Santarém. “Ela estava com a criança nos braços quando chegamos. Ela negou que tivesse seqüestrado, afirmou que o bebê lhe pertence. Rapidamente essa versão caiu por terra, pois a mãe reconheceu a criança e também a seqüestradora”, afirmou. Após isso, a polícia afirmou que a suspeita confessou o crime.
A mãe da criança, segundo parentes, tem 22 anos e, é natural da comunidade Vila Nova do Uruari, na região do Lago Grande, zona ribeirinha de Santarém.
O prontuário de Ruth mostra que ela deu entrada pela primeira vez no Hospital, no dia 29 de agosto, às 22h37. No documento, ela alegava estar grávida. Os dados clínicos mostravam que ela relatou estar sentindo contrações e sangramento. Após receber atendimento médico, ela foi liberada.
Ruth deu novamente entrada no hospital na última terça-feira, às 14h55, alegando estar grávida de oito meses e, segundo a Polícia, ganhou a confiança das outras mães para depois cometer o crime.
O delegado Alexandro informou que serão objetos de investigação os funcionários do hospital e o marido de Ruth. “Nós precisamos verificar até que ponto ele (marido) foi enganado e até que ponto ele também participou desse seqüestro”, revelou.
O diretor do HMS, Glayton Rodrigues, disse que está fora de cogitação a participação de funcionários do Hospital no delito. “Não existe possibilidade nenhuma. Ela era uma paciente sendo atendida como qualquer outro paciente. Na ocasião, ela achou oportuno e acabou fazendo a subtração da criança”, disse.
De acordo com o diretor da 16ª Seccional da Polícia Civil, delegado Nelson Silva, após a mulher dar declarações de como havia raptado o bebê de dentro do Hospital, ela foi indiciada pelo crime de Subtração de Incapaz, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e encaminhada diretamente para a ala feminina do Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRASHM), onde se encontra à disposição da Justiça e pode pegar de 2 a 6 anos de cadeia.
NOTA DO HOSPITAL MUNICIPAL DE SANTARÉM: A respeito do recém-nascido, que desapareceu na manhã de quarta-feira (09/09) do setor de Obstetrícia do Hospital Municipal de Santarém (HMS), a Prefeitura informou que a direção do Hospital acionou imediatamente a Polícia Civil e prestou todas as informações necessárias para as investigações. A Prefeitura, também, comunicou o fato ao Conselho Tutelar I e ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDCA). A Prefeitura reitera que o HMS prestou toda a assistência à mãe do recém-nascido e colaborou para a elucidação dos fatos e a identificação da autora do crime.
NOTA DA PREFEITURA: A Prefeitura, através do Hospital Municipal de Santarém, agradece o empenho e a eficiência da Polícia Civil, sob o comando do delegado Alexandro Napoleão e do investigador Hélio Rêgo, e Polícia Militar, sob o comando do tenente coronel Carlos André Oliveira, que reencontraram, no início da tarde de quarta-feira (09/09), às 14h30, na Rua Rocha Negra, bairro do Maracanã, o recém-nascido que havia desaparecido do setor de Obstetrícia do Hospital Municipal na quarta-feira pela manhã. O Hospital informa que o recém-nascido está com saúde, recebeu todos os cuidados médicos e já se encontra com a mãe. A Prefeitura reitera que, durante o fato, o Hospital colaborou nas investigações, prestando todos os esclarecimentos à Polícia Civil, além de dar a devida assistência à mãe do recém-nascido. A Prefeitura acompanhará a apuração dos fatos e a responsabilização dos envolvidos.
AFLIÇÃO: Após pegar novamente a criança no colo, Osane Fonseca Silva declarou que ficou apavorada com o desaparecimento do seu bebê. “Fiquei apavorada, não tive como fazer nada”, comentou. A criança foi entregue a mãe e segundo o hospital passa bem.
Osane Silva disse que tudo ocorreu por volta de 8h, quando ela foi deixada sozinha pela acompanhante. Osane conta que no momento em que saiu para ir ao banheiro, Ruth entrou no quarto e planejou o rapto da criança. “Ela pegou o bebê e estava sacudindo. A mulher ficou na porta e eu sentei na cama, despreocupada, quando chegou uma senhora e perguntou pelo meu bebê. Eu disse que a mulher teria pego e estava passeando com ele. Demorou um pouco, eu saí do quarto, olhei para o corredor e ela não estava, fui em todos os quartos e não encontrei ela”, disse.
O bebê do sexo masculino, que recebeu o nome de Vitor, nasceu de parto normal no HMS. Vitor é o terceiro filho de Osane. Até que Ruth fosse localizada pela Polícia, a mãe ficou quase seis horas sem nenhuma informação da criança. “Foram momentos ruins, mas sempre tive esperança de encontrar meu filho. Eu imaginava muita coisa, que ela poderia ter matado ele. Eu só chorava, minha cabeça começava a doer. Agora estou satisfeita, graças a Deus que ele chegou aos meus braços novamente”, informou.
SEGURANÇA DE HOSPITAL: As pacientes grávidas que são atendidas no Hospital Municipal de Santarém estão preocupadas com a segurança do local, após o seqüestro do bebê de dentro da unidade desaúde. A dona de casa Adriele da Silva espera ansiosa pela chegada do filho, mas após o sumiço do bebê, passou a ficar receosa quanto à segurança no hospital. “A gente espera tanto tempo e acontece uma coisa dessa. Dá muito medo. Pelo visto, a segurança no Hospital Municipal é péssima. Se uma coisa dessa aconteceu à luz do dia,pode acontecer a qualquer hora, que não tem segurança de nada. É a maior dificuldade para entrar, mas para sair, é rápido”, declarou Adiele da Silva.
A lavradora Denise da Silva também está insatisfeita com a estrutura de segurança no Hospital. Ela até pensa em voltar para casa. “Eu sou do sítio. Eu até disse que eu ia ter meu filho lá na minha comunidade, pois lá não roubam. No Hospital Municipal de Santarém precisa-se de mais segurança, porque assim como entra gente de bem, entra gente de mal”, disse Denise da Silva.
Por: Manoel Cardoso
Fonte: RG 15/O Impacto
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