quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Quadrilha investigada por venda de madeira ilegal usou dados de crianças e mortos, diz PF

 


BRASÍLIA — A quadrilha investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Arquimedes usou “laranjas”, dados de crianças e até de um morto para obter autorizações de extração e comércio de madeira na Amazônia. É o que apontam laudos elaborados pela Polícia Federal — aos quais O GLOBO teve acesso — sobre planos de manejo autorizados pelo órgão de proteção ambiental do Amazonas e cujas liberações estão sob investigação.

A Operação Arquimedes foi deflagrada em 2017 e investiga uma ampla rede de empresários e agentes públicos que fraudavam o sistema de controle de extração, transporte e comércio de madeira. É a maior investigação sobre o comércio ilegal de madeira do país. Ao todo, 61 empresas estão sob suspeita e 22 pessoas já foram denunciadas.

Segundo as investigações, o esquema funcionava da seguinte forma: funcionários públicos recebiam propina para liberar planos de manejo em áreas da Amazônia; madeireiros usavam esses créditos para “esquentar” madeira ilegal, quase sempre retirada de unidades de conservação ou outras áreas públicas; uma vez “legalizada”, a madeira era vendida e abastecia o comércio nacional e internacional.


Ao analisar uma série de pedidos para exploração de madeira feitos ao Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam), os investigadores da Polícia Federal encontraram indícios do uso de dados falsos ou enganosos em diversas fases do processo de autorização dos planos de manejo. Isso ocorria tanto na documentação para pedir a extração de madeira quanto na documentação que os investigados apresentavam para provar que tinham a posse das áreas de onde, em tese, eles iriam explorar madeira.

Foi o caso, por exemplo, de Vanderson Raian Righi. Ao analisar um pedido feito por ele para extrair madeira de uma propriedade em Manicoré (AM), ele declarou ser ocupante da área desde 2005. O problema é que Vanderson nasceu em 1999, logo, em 2005, ele tinha apenas seis anos de idade.

A PF também checou se Vanderson exercia, como exigia a lei, algum tipo de atividade agrícola na área que ele pleiteou como sua. As imagens de satélite, no entanto, mostraram que nenhuma atividade vinha sendo desenvolvida na região. Segundo a PF, Vanderson nem sequer residia na área.

Outra situação parecida ficou conhecida como o caso “menino Mogli”, em alusão ao personagem do desenho infantil criado por lobos na floresta. Trata-se de Rafael Stralioto. Os investigadores constataram que ele deu entrada em um processo para exploração de madeira em uma área no sul do Amazonas e alegou exercer a posse do local desde 2004. Segundo a PF, porém, Rafael tinha apenas oito anos de idade naquele ano.

A suspeita da PF é que muitas das pessoas que deram entrada em planos de manejo para retirar madeira em áreas da União na Amazônia são apenas “laranjas” para empresários ilegais do setor madeireiro.

“Nos parece que o impetrante atua como “laranja” vez que, nasceu em 24/02/1996, logo na data do marco inicial da suposta posse (2004) tinha oito anos de idade”, diz o laudo da PF sobre o caso Stralioto.

Caso zumbi

Em outra situação, a PF encontrou indícios de fraude envolvendo uma pessoa falecida. Os investigadores analisaram o plano de manejo apresentado por Fernando Dalla Valle. Segundo a PF, Dalla Valle declarou que a área de onde ele queria retirar madeira lhe havia sido por Eutropio de Oliveira Melo, em março de 2009. Para a PF, essa transação seria praticamente impossíve porque, segundo a Receita Federal, Eutropio morreu em 2008. Por isso o caso ficou conhecido como “zumbi”.

Fonte: Yhool

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