Até bem pouco tempo atrás, na região sudoeste do Pará, sabia-se que Heverton Soares Oliveira, era um dos garimpeiros mais bem sucedidos de Itaituba. Desde o último dia 4, no entanto, ele passou da condição de empresário do setor mineral para a condição de foragido da Justiça e um dos criminosos mais procurados do país. Com um mandado de prisão em aberto contra ele, ‘Grota’ ou ‘Garimpeiro’, está foragido. Ele é um dos principais alvos da “Operação Narcos Gold”, deflagrada pela Polícia Federal, que combate o crime de lavagem de dinheiro do narcotráfico.
Em Itaituba, Heverton levava uma vida de ostentações, promovendo festas e eventos com artistas de renome nacional, inclusive.
‘Grota’, de acordo com uma reportagem investigativa da Agência Sportlight, que atua com jornalismo independente, descobriu uma conexão do garimpeiro com o governo Bolsonaro, que o contemplou com nada menos que 18 autorizações para lavra mineral em uma das regiões mais disputadas por empresários do setor mineral e alvo agora dos narcotraficantes para lavagem de dinheiro.
A reportagem da Sportlight revelou que foi a partir do dia 17 de novembro de 2020, começou a receber autorizações de permissão de lavra da Agência Nacional de Mineração (ANM), dos 18 pedidos feitos à instituição. Foram quatro e, dois dias depois, dia 19, ‘Grota’ recebeu o sinal verde para mais 13 autorizações. E por fim, em 24 de fevereiro, ganhou o último selo, completando as 18 solicitações.
Após receber as permissões definitivas, na mesma semana, “Grota” adquiriu um avião modelo Cessna monomotor, transferido para seu nome em 24 de novembro de 2020, de acordo com consulta feita nos registros aeronáuticos. Com esse avião, de acordo com as investigações da PF, ele fazia o transporte das drogas. O avião foi um dos muitos itens apreendidos durante a “Operação Narcos Gold”.
As autorizações recebidas por ‘Grota’ são para explorar áreas na região de Itaituba, onde ele possui fazendas, haras, pistas de pouso, empresas de maquinário de extração mineral e peças de carro. Na verdade, segundo a investigação federal, a estrutura é só uma nuvem de fumaça para encobrir a sua principal atividade: o tráfico de drogas.
A Agência Sportlight pesquisou e constatou que, durante o governo Bolsonaro, “Grota” obteve 18 “permissões de lavras garimpeiras”. Todas com protocolo de entrada em 19 de setembro de 2019.
Tanto as datas de entrada como as de autorização definitiva fazem mais sentido se analisadas em perspectiva geral. Associadas ao discurso e a prática das ações do governo Bolsonaro no setor, permitem que se forme o quebra-cabeças que compõe o chamado “narcogarimpo”.
As relações entre o calendário das permissões do narcotraficante Heverton Soares Oliveira e a agenda do governo Bolsonaro não param na data de protocolo de entrada, em 19/9/2020.
O passo fundamental para a autorização de pedidos protocolados como os de Heverton foi dado no dia 5 de novembro de 2020. Na audiência em que recebeu lideranças do garimpo no Planalto, Bolsonaro prometeu e ameaçou retirar o papel de entidade responsável por analisar e emitir a permissão de lavra da Agência Nacional de Mineração (ANM), transferindo a missão para o Ministério de Minas e Energia.
A investigação da PF estima que movimente mais de R$ 30 milhões mensais obtidos através do tráfico de drogas. Dono de um prontuário de crimes rico e espalhado pelo Brasil, com processos na justiça do Maranhão, Rondônia e São Paulo por tráfico de drogas, organização criminosa, lavagem de dinheiro e homicídio, mesmo assim recebeu da ANM as permissões de lavras garimpeira.
“O transporte das drogas era realizado por meio de aviões que partiam de outros estados até o oeste do Pará. Nesta região era feita a distribuição dos entorpecentes para outras unidades da federação… foi verificado ainda que o grupo utilizava garimpos de ouro como base para pousos e decolagens no transporte de drogas e, também, como fachada para lavagem de dinheiro”, diz a reportagem.
As 18 permissões de lavra garimpeira para um narcotraficante como “Grota” no governo Bolsonaro não são ato isolado.
Em 14 de dezembro de 2020, outra reportagem da Agência Sportlight, mostrou que Silvio Berri Junior, preso na “Operação Enterprise”, realizada em 23 de novembro de 2020, recebeu, em 3 de outubro de 2019, 10 permissões para extração de ouro e cassiterita em Jacareacanga, sudoeste do Pará. Coração do triângulo que se completa com Itaituba e Novo Progresso e onde está uma parte do território dos Munduruku, da antiga Reserva Garimpeira do Tapajós e de outras unidades de conservação federal.
A partilha de garimpos amazônicos para o narcotráfico no governo Bolsonaro não fica em pessoas físicas como Heverton Soares e Silvio Berri. Na recente “Operação “Narcos Gold”, o juiz Alexandre Rizzi, à frente do caso na 1ª Vara Penal de Santarém, também determinou busca e apreensão em 10 empresas, de acordo com o juiz, “envolvidas no negócio”.
Entre essas 10 empresas, 3 são de Heverton Soares: a Vale do Ouro Serviços Agropecuários Ltda, a Stilo Sound Acessórios Automotivos Ltda e a Mineração Vale do Ouro. E uma outra, de acordo com o processo, seria uma cooperativa de garimpeiros com sede em Itaituba, a Cooperativa dos Garimpeiros Mineradores e Produtores de Ouro do Tapajós, a Coopouro.
A reportagem constatou que no dia 19 de março de 2021, a Coopouro entrou com 27 pedidos de permissão de lavra garimpeira junto a ANM. Os processos ainda estão correndo.
Fonte: Estado Net
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