terça-feira, 2 de dezembro de 2025

ARTIGO: O Golpe de 8 de Janeiro e a Construção do Poder no Brasil

 Minha opinião 

Edilson Patrocínio - 
Jornalista e Acadêmico de Direito

O golpe do dia 8 de janeiro não veio da direita. Quem deu o golpe foi a esquerda. Quem dá golpe é quem assume o poder. Para a direita ter realizado um golpe, isso teria acontecido até o dia 31 de dezembro, com Bolsonaro ainda no país e sentado na cadeira de presidente. Ninguém sai do poder, deixa o país e tenta dar um golpe à distância.


O que realmente faltou foi Bolsonaro ter feito um discurso reconhecendo a vitória de Lula. Se ele tivesse feito isso, o povo voltaria para casa triste, mas sairia de frente dos quartéis. Ele deveria ter se despedido da multidão que o acompanhava. Em vez disso, deixou viva uma esperança que sabia que jamais poderia se concretizar. A maior prova disso é que a maioria dos deputados, senadores e governadores da direita, eleitos no mesmo processo eleitoral que ele chamava de fraudado, tomou posse normalmente, sem contestação.


É preciso também deixar claro quem foi a massa usada naquele momento. Quando falo em massa ignara, refiro-me exclusivamente ao grupo que estava acampado na frente dos quartéis. Esse termo já tinha sido usado anteriormente, em outros processos eleitorais, quando os evangélicos votaram no Garotinho, que naquela época era do PSB, um partido de centro-esquerda. Os analistas chamaram os evangélicos de massa ignara naquele contexto, e é esse mesmo sentido que utilizo aqui.


Essa massa foi empurrada por lideranças raivosas que usavam redes sociais para vender uma libertação que não existia. Além disso, houve infiltração de quem realmente sabe conduzir movimentos políticos. E fizeram isso com apoio das instituições. Se não fosse assim, o que faltou para que o golpe tivesse sido concluído? Os manifestantes chegaram a ocupar os três poderes. Em qualquer golpe clássico, quando não se consegue assumir o poder central, assume-se uma cidade ou uma província e se instala ali o núcleo de comando. No dia 8, os prédios foram ocupados; faltou apenas gritar “independência ou morte”.


Mesmo assim, o golpe se consumou. Naquele dia, formou-se um tribunal. Houve condenações. Houve prisões de deputados, governadores, generais e agora até do presidente. O golpe foi dado. E não foi preciso Exército, Marinha nem Aeronáutica. Foi preciso apenas o Supremo e uma narrativa perfeita.

Em relação à inocência, à culpa e às condenações, tudo o que está sendo decidido hoje não se baseia no direito concreto. Baseia-se na narrativa. Se a história fosse escrita pela justiça pura, Joana D’Arc não teria sido queimada na praça; Tiradentes não teria sido enforcado; tantos outros heróis não teriam morrido condenados. Mas foram. Porque a história é contada pelos vencedores. E a justiça, hoje, é definida por quem está no poder. Justiça é de quem segura o martelo.


Mesmo em um cenário de medo e descrédito, um povo precisa apenas de um líder. Um líder capaz de levantar essa nação e fazê-la compreender que o verdadeiro supremo deveria ser o próprio povo. Mas esse despertar não é imediato. Leva de vinte a trinta anos. Talvez esse líder ainda nem tenha nascido. E muitos de nós talvez não veremos a liberdade que esperamos.


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