Sabia que não iria demorar. Foi só o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quase 80, escrever o daqui que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 65, respondeu de lá _ lá de Londres, no caso, onde se encontra no momento.
Na falta de protagonistas mais novos, os dois voltam ao centro da cena política brasileira, ou melhor, do ringue em que se transformou a interminável disputa pelo poder entre petistas e tucanos.
Com Dilma em visita oficial à China e José Serra dedicado ao twitter, foi Lula quem respondeu ao artigo “O papel da oposição” publicado na revista “Interesse Nacional”, em que FHC aconselha seu partido a desistir de disputar votos com o PT no campo do adversário, que teria aparelhado e cooptado os movimentos sociais e as centrais sindicais.
“Não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão”, respondeu Lula a FHC, que recomendou ao PSDB dar prioridade à classe média, deixando de lado “as massas carentes e pouco informadas” (tema do post anterior).
Lula chegou a comparar Fernando Henrique a outro ex-presidente, o general João Batista Figueiredo, que disse preferir “cheiro de cavalo ao de povo”.
Agora, disse Lula, segundo relato do Ultimo Segundo no iG, “tem ex-presidente que fala que é preciso esquecer o povão. Eu não entendo, não sei o que ele quis dizer”.
Como começou e até onde vai este confronto entre os homens que comandaram o país nos últimos 16 anos?
Conheci e fiquei amigo dos dois quando voltei da Alemanha, no final dos anos 1970, em São Bernardo do Campo, onde Lula comandava as greves dos metalúrgicos, com o apoio de personalidades da sociedade civil na resistência ao regime militar _ entre elas, o jovem professor Fernando Henrique Cardoso.
Em 1978, durante a campanha eleitoral, vi Lula entregando panfletos de FHC, ao lado do então candidato a senador numa sublegenda do antigo MDB, em portas de fábricas e discursando em comícios. Na época, eles chegaram a conversar sobre a criação de um novo partido, que viria a ser o PT de Lula. Fernando Henrique preferiu ficar onde estava.
Os dois se reencontrariam nas lutas pela Anistia e por Eleições Diretas, no ocaso da ditadura militar, e tinham perdido eleições antes de disputar a presidência entre si, em 1994 e 1998, ambas disputas vencidas por FHC no primeiro turno.
Sempre que ia tomar café para uma conversa em “off” com o presidente Fernando Henrique, levado pela amiga Ana Tavares, sua secretária de Imprensa, ele me falava com carinho sobre Lula e perguntava sobre os nossos amigos comuns no PT.
Até o início do primeiro governo Lula, em 2003, após as cenas emocionantes da transmissão de cargo _ em que o novo presidente disse ao antecessor “você deixa aqui um amigo”, na hora da despedida _, os dois eram adversários cordiais.
Pude testemunhar isso antes do início de uma recepção oferecida no Itamaraty, meses após a posse, em que Lula e FHC conversaram longamente no gabinete do ministro Celso Amorim.
Não me recordo em que momento e por qual motivo os dois se afastaram de vez e passaram a brigar pela imprensa, cada vez subindo mais o tom. Acho que sou um dos poucos jornalistas brasileiros que pode ligar no mesmo dia para os dois ex-presidentes e ser bem atendido por ambos. Da próxima vez, vou tentar esclarecer esta dúvida.
Autor: Ricardo Kotscho
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