Pagot X Mario Couto
Uma ausência no Senado tem intrigado quem acompanha a cena política em Brasília. Em meio à avalanche de notícias negativas sobre negociatas capitaneadas pelo PR no âmbito do Ministério dos Transportes, o senador Mário Couto (PSDB-PA) desapareceu. Crítico ferrenho do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, – a quem costuma chamar de “ladrão” quando sobe à tribuna do plenário –, Mário poderia ter feito dos últimos dias o auge da sua carreira política no Senado. Afinal, ele sempre chamou a atenção para a existência de desvios no Dnit na administração de Pagot. E, como ele alertava, surgiram diversas denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes, que levaram a presidenta Dilma Rousseff a afastar toda a sua cúpula, incluindo o ministro Alfredo Nascimento. Oficialmente, Pagot, o alvo preferido de Mário Couto, está de férias, mas as informações é que ele não retornará ao cargo. Todos esperavam Mário Couto no plenário e nas comissões faturando politicamente que sempre alertara para os rolos de Pagot, do Dnit e do ministério. No entanto, enquanto seus adversários caíam, Mário Couto simplesmente desapareceu do Senado. Por quê? A razão é que, no âmbito de seu estado, o senador fechou os últimos dias tão enrolado quanto a cúpula do Ministério dos Transportes.
No último dia 6 de julho, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) chegou a manifestar a falta que sentia de Mário Couto em plenário para comentar os desmandos no Ministério dos Transportes. Na ocasião, Ataídes chegou a imitar o colega de partido, imaginando o que ele teria dito sobre as denúncias veiculadas pela imprensa. “Descobri que aqui, neste Parlamento, existe um profeta. Esse profeta chama-se Mário Couto”, iniciou o parlamentar tocantinense, antes de discursar contra os “escândalos” dos primeiros meses do governo Dilma Rousseff.
“Diversas vezes eu ouvi nesta tribuna o nosso ilustre senador Mário Couto falando sobre o caso Palocci e também sobre o caso Pagot. Interessante, senhoras e senhores senadores! Se hoje ele estivesse aqui, imagino que agiria da seguinte forma: ‘Meu amigo Pagot, eu o avisei que era para parar de roubar o dinheiro do povo. E agora, meu amigo Pagot, o que você vai fazer?’”, acrescentou Ataídes, alheio às reais razões do afastamento do colega de partido.
Na verdade, o que está por trás do sumiço de Mário é um processo aberto pelo Ministério Público do Pará que versa sobre indícios de irregularidades diversas, como fraudes em licitações e nas folhas de pagamento de servidores da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa) entre 2003 e 2007, período em que era presidida pelo hoje senador do PSDB do Pará. Segundo a denúncia, Mário compunha uma quadrilha especializada em adulterar contracheques, autorizar compras superfaturadas, fraudar licitações, utilizar laranjas em negócios escusos e compactuar com a ocorrência de funcionários fantasmas no Legislativo paraense.
Para o deputado Cláudio Puty (PT-PA), o desdobramento do caso no Pará explica a ausência de Mário Couto no Congresso em Brasília nos últimos dias. Às voltas com as denúncias, Mário Couto estaria suscetível a ataques, e a simples aparição no Senado poderia suscitar um fogo cruzado. “Não se fala em corda em casa de enforcado”, resumiu Puty em entrevista ao Congresso em Foco, recorrendo ao dito popular.
Mário “Tapiocouto”
Coordenador de uma comissão externa instalada na Câmara, em 27 de abril, para acompanhar as investigações em curso no Pará, como instrumento de subsídio para o trabalho do Ministério Público Federal (MPF), Cláudio Puty disse que a “série de falcatruas” atribuídas à gestão de Mário Couto é o mais grave escândalo da Alepa.
“Como as investigações demonstram que os espetos na casa do senador Mário Couto eram de pau, ele provavelmente não se sente mais tão à vontade para posar de paladino da moralidade. Há uma avalanche de denúncias na Procuradoria-Geral da República [PGR] que o envolvem numa das maiores falcatruas da história do Pará”, afirmou o deputado, referindo-se à ação movida há duas semanas pelo diretório nacional do PT, na figura do presidente, Rui Falcão, contra o tucano.
Puty explica que a comissão dá respaldo e visibilidade às apurações do MPF, bem como ao Ministério Público do Pará, onde foi iniciado o trabalho investigativo. “As denúncias seguem em três linhas: fraude em folha de pagamento, com funcionários fantasmas e laranjas; fraude em licitações; e sonegação e evasão fiscal, uma vez que, com a fraude na folha, a consequência é o não pagamento de tributos”, acrescenta o petista.
As investigações, diz Cláudio Puty, estão focadas nas mais recentes gestões da Alepa – antes de Mário Couto, quem capitaneou a instituição e teria iniciado a série de desmandos foi Domingos Juvenil, então deputado do PMDB, ligado ao ex-senador Jader Barbalho. “O escândalo estourou quando uma pessoa chamada Mônica Pinto, partícipe no esquema, foi exonerada e decidiu contar tudo. Ela, que é ré [no processo iniciado no MP] por estar envolvida nas falcatruas, era uma servidora DAS [posto de direção] e resolveu contar tudo”, disse o deputado, acrescentando que também há no caso denúncias sobre financiamento de campanha de Mário Couto.
Uma das empresas doadoras à campanha de Mário Couto em 2006, diz o deputado, tinha como razão social a venda de tapiocas – razão pela qual o senador e o caso foram apelidados no Pará, respectivamente, de “Tapiocouto” e “Tapiogate”. Puty diz ainda que investigações anteriores sobre o caso haviam sido “abafadas”, o que teria movido o diretório nacional do PT a agir no âmbito federal – por ter foro privilegiado como senador, o tucano só pode ser enquadrado pelo Supremo Tribunal Federal, provocado pela PGR.
Em reação, diz Puty, Mário Couto “reclamou muito, estrebuchou” e disse que denunciaria também deputados petistas, mas até agora “não explicou as denúncias”.
A reportagem procurou, por e-mail e telefone, ouvir as explicações de Mário Couto, mas não obteve retorno. A assessoria do senador informou que ele estaria afastado do Senado na semana pré-recesso, em viagem, mas que tentaria localizá-lo. Até o fechamento desta edição a assessoria também não deu retorno.
Fonte: Congresso em Foco
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