Imagem da Casa Um |
*Jornalista e ex-prefeito de Belterra.
Erguida em 1938 pela Companhia Ford Industrial do Brasil na sequência
das edificações da Vila Americana, então conjunto mais charmoso da “Bela Terra”,
destinado a alojar os principais representantes da companhia e seus familiares e
integrando um contexto de 8 casas - sendo
7 residenciais e 1 destinada aos visitantes, autoridades e técnicos em
trânsito; 1 hospital; 1 escritório e 1 clube destinado aos bailes e jogos de
mesa (Club House) -, foi destinada especialmente a abrigar o magnata
americano Henry Ford quando viesse ao Brasil visitar o projeto que objetiva a
produção de látex natural em larga escala.
A visita chegou a ser planejada, inclusive com a remessa de
Detroit, nos EUA, para Belterra de um automóvel Ford, capota fechada, logo
batizado de “OP-1”, o número das placas nele afixadas. Ocorre que a visita,
sempre adiada, nunca acontecera, e o primeiro ocupante da Casa, reservada
apenas para esse fim especial, “novinha em folha”, não foi Ford e sim, serviu
para o pernoite do Presidente Getúlio Vargas em outubro de 1940.
Recebido com euforia pelo principal staff da Companhia Ford e
pelos trabalhadores, se utilizou também do “bem-cuidado” automóvel para as suas
locomoções a partir do ancoradouro flutuante do Porto Novo, onde aconteceram as
concorridas recepção e despedida ao presidente.
Na Vila, da vasta programação, da qual constava a inauguração da
Praça Getúlio Vargas, na Cabeça da Serra; da Creche Darcy Vargas, no Coração da
Estrada 8; de um encontro promovido pela CFIB para uma exposição técnica sobre
o projeto, bem como sobre a relação contratual com os empregados, assunto do maior
interesse do presidente “trabalhista”, pois a CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho criada por ele em 1943 já estava planejada); da exibição do processo
de enxertia da seringueira pelo “Mestre Sena”, empregado escolhido para essa
tarefa técnica e da própria Casa 1, onde Sua Excelência e comitiva repousaram.
Sempre tratada como um ícone, após a extinção da Companhia Ford e a
partida dos americanos, sua destinação continuou a mesma por muito tempo,
inclusive para recepcionar a partir do governo Eurico Dutra o agrônomo e
pesquisador paulista, adjunto do então ministro da Agricultura Daniel de
Carvalho, Felisberto Cardoso de Camargo, principal responsável pelas Plantações
Ford de Belterra e Fordlândia, que absorveu o patrimônio da Ford após a indenização
simbólica feita pela União.
Há relatos de que em 1959, nela também foi recepcionada para um
almoço uma comissão de autoridades do Estado também integrada por um grupo suprapartidário
de deputados federais, dentre os quais o então deputado maranhense, hoje
senador e ex-presidente da República e do Senado Federal José Sarney.
Após isso, o imóvel passou a ser colocado à disposição dos
administradores locais, embora a maioria deles não optasse por ali se instalar.
Todavia, o doutor Francisco Antônio das Chagas, nomeado administrador de
Belterra, pelo Diretor do ERT (Estabelecimento Rural do Tapajós) Abnor Godim, recém-casado
com uma belterrense, dela fez uso como morada em 1960. Quando retornou ao cargo
pela segunda vez, preferiu ocupar a “Casa 2”.
Mesmo com o surgimento e a autonomia administrativa conquistada
com a instalação da Base Física de Belterra, vinculada à Delegacia do
Ministério da Agricultura no Pará, o imóvel continuou sendo usado para
reuniões, recepções e abrigo temporário para visitantes ilustres.
Sem utilização e literalmente desocupada a partir do início da
década de 1990, período em que também perdemos o funcionamento do Hospital
Henry Ford, eis que surge um interessado em cuidar do imóvel. E, assim, em 01.01.1997,
quando da instalação do município, encontramos a casa ocupada pela senhora Olga
Sarmento, “caseira do irmão”, agrônomo dos quadros do Ministério da
Agricultura.
Após três anos de constantes conversas com a mesma, foi possível
convencê-la que ali se tratava de um patrimônio histórico e dela desocupada a
cidade precisava, para ser destinada a sediar um órgão da administração
pública, quem sabe, por sua importância, uma Biblioteca.
A pedido da mesma, o doutor David Sarmento foi procurado para se
saber das suas intenções e se portava algum despacho se quer, do Delegado
Federal de Agricultura ou do próprio Ministro da Pasta, com os quais se fazia
necessário à cordialidade, pois com eles o recém-instalado município estava comungando
de um bom relacionamento, e contando, inclusive, com muita sensibilidade quanto
à liberação do patrimônio móvel e imóvel, e até de servidores no processo de
instalação da nova cidade.
Em Santarém, foi iniciada a série de visitas ao senhor David
Sarmento com esse intento. Porém, a conclusão chegada foi a de que nada de
formal sobre a ocupação da casa possuía, apenas, estando ela abandonada,
resolveu se apossar da mesma, fato comum em Belterra naquela época. E o fez por se achar merecedor, em razão de
ser filho da terra, amar Belterra e desta Vila por algum tempo ter sido
administrador, além do mais, com o objetivo de preservá-la e livrá-la do
abandono a que estava relegada.
Mesmo assim, e entendendo as razões por ele levantadas, o prefeito
recorreu à autoridade e as prerrogativas de gestor, deixando claro que o
município também não pretendia se indispor do espaço diante das necessidades para
abrigar as secretarias da nova estrutura municipal.
Novas conversações com a “caseira” foram reatadas, que alegou não
contar com “um teto” para abrigar-se ao deixar a Casa 1, bem como com um
emprego que no futuro lhe propiciasse um aposentadoria junto ao INSS.
As providências foram logo encaminhadas e meses depois, a casa que
pertencia a um motorista de prenome “Marcelino”, na antiga “Pilão do Meio nº
14”, hoje “Tv. Vereador Manoel Motta”, que estava deixando Belterra com a
família com destino Porto Trombetas foi adquirida. E após uma breve reforma,
colocada ao seu dispor com o convite também para assumir a governadoria do
alojamento conhecido como “Unidade”, onde, por oito anos, serviu dignamente
como governanta naquele prédio público.
Com o objetivo alcançado e sem embaraços, em 10.03.2000 foi
sancionada a Lei Municipal 056/00, dispondo sobre o tombamento para o
patrimônio histórico e cultural do município do imóvel, passando à
municipalidade a responsabilidade por sua preservação e uso. Porém, uma outra
preocupação passou a desafiar a administração. Suas instalações físicas estavam
em estado precário e com risco de ruir.
No último ano daquela gestão, apesar de não contar com recursos
conveniados para a obra, os reparos necessários a salvá-la com a parcial
recuperação foram determinados, valendo-se dos recursos próprios possíveis na
ocasião.
Nessa época, o prédio já abrigava a Biblioteca Pública Henry Ford
e a Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente e, portanto, bastante
visitado. Mesmo assim, contando com a sensibilidade dos seus responsáveis
Raimunda Torres e Chardival Pantoja a reforma física foi iniciada.
Com o prédio adernando, a equipe se valeu de equipamentos
conhecidos como “macacos hidráulicos” para equilibrá-lo e concluir a tarefa em
12.04.2004, com o mestre de obras Manoel Raimundo M Pereira recebendo pela então
recuperação da planta baixa da Casa, a importância de R$ 2.500,00.
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