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Belterra, PA (05/09/2015) – Deoclídio Serrão tem setenta anos é
agricultor aposentado e está no segundo casamento. Da união atual, ele
tem dois filhos: Antônio, de 3 anos e Cledinaldo, de 1 ano. Deoclídio é
um autêntico amazônida: nasceu e sempre viveu no Tauari, uma das vinte e
cinco comunidades tradicionais situadas dentro da Floresta Nacional do
Tapajós, distante cerca de 140 quilômetros de Santarém (PA).
"Meu pai me criou plantando mandioca, para fazer a farinha para a
gente comer, vender e comprar algumas coisas para a casa. Meu pai também
vivia da seringa, tirando o latéx para vender. Nós eramos oito irmãos",
relembra Deoclídio.
Às margens do rio Tapajós, um dos afluentes do rio Amazonas, a Floresta Nacional do Tapajós
é uma Unidade de Conservação (UC) de uso sustentável administrada pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nas
comunidades tradicionais vivem cerca de quatro mil ribeirinhos que tiram
o sustento da pesca tradicional, do manejo florestal comunitário e da
agricultura familiar.
Além
dos ribeirinhos, há cerca de quinhentos indígenas divididos em duas
aldeias: Bragança-Marituba e Munduruku-Taquara. "Nossa relação é boa com
os pareuás [brancos]", afirma o cacique da Aldeia Bragança, Domingos
Correia. "Nossa vida depende da natureza e o ICMBio é nosso parceiro
para cuidar da floresta", conclui o cacique.
Quando a UC foi criada, em 1974, Deoclídio tinha 28 anos e pensava em
ir embora da região. "Na época [antes da criação], tinha muito
desmatamento. Lá na frente, o que ia acontecer é que a gente ia ficar
num deserto", avalia o agricultor. "Os fazendeiros entravam, tiravam a
madeira e ninguém podia falar nada. Hoje nós estamos felizes na
comunidade porque não tem mais invasão. Nossa vida melhorou e tem
condições para meus filhos ficarem aqui. O ICMBio dá apoio para nós,
também", destaca Deoclídio.
Conservação e desenvolvimento
No meio do caminho entre Belém e Manaus, com mais de 500 mil hectares de área,
a Floresta Nacional do Tapajós é uma unidade de conservação com bom
nível de implementação. As atividades socioeconômicas convivem em
harmonia com a conservação da natureza. O manejo florestal sustentável
– regulamentado e licenciado – utiliza menos de 5 por cento da área
total da unidade e gera cerca de R$ 10 milhões por ano (receita bruta).
Toda a renda gerada pela extração de madeira é da cooperativa formada
por moradores de comunidades que existem há mais de trezentos anos na
região. "Os recursos são usados para a melhoria de vida deles. O lucro
gerado pela atividade de manejo é utilizado para custear a próxima safra
e o restante é dividido entre os cooperados e associações
comunitárias", destaca o chefe da UC, José Risonei.
"Muitos acreditam, de maneira equivocada, que a floresta em pé é um
obstáculo para o desenvolvimento. É justamente o contrário. Em grande
parte dos locais intensamente desmatados na Amazônia não houve avanços
socioeconômicos, sobretudo para a população local", pontua o presidente
do ICMBio, Claudio Maretti.
"A Floresta Nacional do Tapajós é a mais utilizada do bioma
amazônico. Ao mesmo tempo, tem um dos melhores índices de proteção de
toda Amazônia. Há um cinturão de uso protegendo um núcleo preservado,
intocável que representa cerca de trinta por cento da área total da
unidade", explica Risonei.
"O bom nível de implentação da Floresta está associado à organização
social, aos investimentos realizados e às parcerias que estão vigentes,
avalia o diretor de Ações Socioambientais do ICMBio, Leonardo Messias.
"A gestão da área é compartilhada com os moradores das comunidades e
eles se tornam responsáveis por proteger a natureza. Eles sabem que o
futuro das comunidades depende da conservação da floresta", destaca
Messias.
Pesquisa orienta atividades
Até
2013, a cooperativa que realizava a extração legal das árvores vendia
apenas as toras. Os galhos ficavam na floresta, representando um grande
desperdício de matéria-prima e dificultando a regeneração natural.
Como resultado de uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa),
os galhos passaram a ser aproveitados para a fabricação de móveis. A
atividade gera 40 empregos e, até o fim da safra atual, cerca de R$ 1
milhão, com a venda de cadeiras, mesas, portas e objetos de decoração.
"O excedente desta madeira legal e certificada é vendido", explica o
chefe da Floresta Nacional do Tapajós, José Risonei.
"Com mais atividade econômica regulamentada, a população tradicional
movimenta mais recursos, melhora a qualidade de vida das famílias
beneficiárias fazendo com que permaneçam na floresta. Isso tudo
contribui para a conservação da natureza", conclui o diretor Messias.
O turismo de base comunitária
é uma das atividades econômicas em desenvolvimento na UC. Os 160
quilômetros de praias de areias branquinhas e águas quentes e o fácil
acesso – de carro ou de barco – fazem da Floresta Nacional do Tapajós
uma das unidades de conservação mais visitadas na região norte do
Brasil.
"A experiência da Floresta Nacional do Tapajós mostra que o
desenvolvimento vem através da conservação e do uso sustentável, com a
participação da sociedade", afirma o presidente Maretti.
Cultura local
Passados mais de quarenta anos, desde a criação da Unidade de
Conservação, a conservação da natureza é defendida pelos que lá vivem e
foi incorporada às manifestações culturais locais. "Sim, floresta amiga,
Floresta do Tapajós. Queremos preservação, protegei para a nova
geração", canta Erivane Laranjeira, compositora da música Floresta do Tapajós, que encerra dizendo: "Eu não aceito queimadas, e nem devastação".
A música foi feita para o Festival do Mapurá – tipo de piranha do rio
Tapajós – evento cultural realizado desde o ano 2000, no Tauari.
"Nossas composições falam da importância de preservar a floresta,
relembram nossas histórias e valorizam as belezas da região", explica a
compositora que também nasceu no Tauari e hoje mora em Santarém, onde
estuda jornalismo. Outras comunidades tradicionais da região também
realizam festivais, manifestações culturais ligadas à realidade de cada
localidade.
Comunicação ICMBio
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