PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA |
Lula garantiu que não existe político “irretocável do ponto de vista do comportamento moral e ético”. “Não existe”, reiterou. Vale como confissão. |
Sob o comando de Lula, o PT
antecipou o início da campanha presidencial, cuja eleição se realiza daqui a 17
meses, de modo que tudo o que as lideranças do partido e do governo fazem e
dizem deve ser considerado de uma perspectiva predominantemente eleitoral. E
desse ponto de vista ganham importância as mais recentes declarações do chefe
do PT que, do alto de seu irreprimível sentimento de onipotência, anda sendo
acometido por surpreendentes surtos de franqueza. No lançamento de um livro
hagiográfico dos 10 anos de governo petista, Lula garantiu que não existe
político “irretocável do ponto de vista do comportamento moral e ético”. “Não
existe”, reiterou. Vale como confissão.
Lula
está errado. O que ele afirma serve mesmo é para comprovar os seus próprios defeitos.
Seus oito anos na chefia do governo foram de uma dedicação exemplar à tarefa de
mediocrizar o exercício da política, transformando-a, como nunca antes na
história deste país, em nome de um equivocado conceito de governabilidade, num
balcão de negócios cuja expressão máxima foi o episódio do mensalão.
É claro
que Lula e o PT não inventaram o toma lá dá cá, a corrupção ativa e passiva, o
peculato, a formação de quadrilha na vida pública. Apenas banalizaram a prática
desses “malfeitos”, sob o pretexto de criar condições para o desenvolvimento de
um programa “popular” de combate às injustiças e à desigualdade social. Durante
oito anos, Lula não conseguiu enxergar criminosos em seu governo. Via, no
máximo, “aloprados”, cujas cabeças nunca deixou de afagar. O nível de sua
tolerância com os “malfeitos” refletiu-se no trabalho que Dilma Rousseff teve,
no primeiro ano de seu mandato, para fazer uma “faxina” nos altos escalões do
governo.
O que
Lula pretende com suas destrambelhadas declarações sobre moral e ética na
política é rebaixar a seu nível as relativamente pouco numerosas, mas sem
dúvida alguma existentes, figuras combativas de políticos brasileiros que se
esforçam – nos partidos, nos três níveis de governo, no Parlamento – para
manter padrões de retidão e honestidade na política e na administração pública.
O
verdadeiro espírito público não admite mistificação, manipulação, malversação.
Ser tolerante com práticas imorais e antiéticas na vida pública pode até
estigmatizar como réprobos aqueles que se recusam a se tornar autores ou
cúmplices de atos que a consciência cívica da sociedade – e as leis – condenam.
Mas não há índice de popularidade, por mais alto que seja, capaz de absolver
indefinidamente os espertalhões bons de bico que exploram a miséria humana em
benefício próprio. Aquela tolerância, afinal, caracteriza uma ofensa inominável
não só aos políticos de genuíno espírito público que o País ainda pode se
orgulhar de possuir, como à imensa maioria dos brasileiros que na sua vida
diária mantêm inatacável padrão de honradez e dignidade.
Não é à
toa que as manifestações públicas de Luiz Inácio Lula da Silva, além das
manifestações de crescente megalomania, reservam sempre um bom espaço para o
ataque aos “inimigos”. A imagem de Lula, o benfeitor da Pátria, necessita
sobressair-se no permanente confronto com antagonistas. Na política externa,
são os Estados Unidos. Aqui dentro, multiplicam-se, sempre sob a qualificação
depreciativa de “direita”. Mas o alvo predileto é a mídia “monopolista” e
“golpista” que se recusa a endossar tudo o que emana do lulopetismo.
Uma das
últimas pérolas do repertório lulista é antológica: “Acho que determinados
setores da comunicação estão exilados dentro do Brasil. Eles não estão
compreendendo o que está acontecendo”. Essa obsessão no ataque à imprensa, que
frequentemente se materializa na tentativa de impor o “controle social” da
mídia no melhor estilo “bolivariano” – intenção a qual a presidente Dilma,
faça-se justiça, tem se mantido firmemente refratária -, só não explica como,
tendo a conspirar contra si todo o aparato de comunicação do País, o
lulopetismo logrou vencer três eleições presidenciais consecutivas. O fato é
que Lula e seus seguidores não se contentam com menos do que a unanimidade.
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