Demitida um dia antes de o filho devolver uma carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo, a ex-profissional de marketing Cíntia Marques da Silva conta que chorou de felicidade ao ver o primogênito dar exemplo de honestidade no Distrito Federal. O garoto de 16 anos não descansou até devolver o valor ao dono, mesmo sem ter nenhuma pista de quem era. O incidente aconteceu no dia 11 de agosto, em Samambaia.
Lucas Yuri achou a carteira no caminho para o Centro de Ensino Fundamental 312. Inquieto durante a aula, chamou a atenção da professora, que recomendou que ele procurasse a coordenação da escola. O dinheiro pertencia a um pedreiro aposentado, que por engano deixou o item no lixo quando saía para levar a mulher ao médico.
“Quando aconteceu, imaginava que era algo comum. Nunca imaginei que daria essa repercussão toda. Fiquei muito orgulhosa. Toda vez que eu lembro, tenho vontade de chorar. Tive muito trabalho para criar ele. Fui mãe solteira, eu o tive muito nova. Muitas coisas eu que aprendo com ele. Vê-lo tomando uma atitude dessas é muito legal”, afirmou.
Cíntia conta que o menino nasceu de um relacionamento que ela teve na adolescência. Ela chegou a morar com o pai dele, com quem teve outra menina, mas decidiu encerrar a união depois de descobrir que foi traída. A família passou necessidade, e a mulher decidiu voltar para a casa dos pais com as crianças.
“Deixei de comer algumas vezes para dar para ele”, lembra a desempregada. “A gente passou muita coisa nessa vida, mas o Lucas sempre foi um menino muito bom. Trabalha desde o ano passado. Entrava às 5h30 e nunca reclamou. E não quer que a irmã trabalhe, quer que ela só estude. Ele me dá muito orgulho, é uma bênção.”
O garoto estuda pela manhã e trabalha no período da tarde, de segunda à sexta, como auxiliar administrativo de um hospital. Ele recebe meio salário mínimo pelo trabalho, além de pouco mais de R$ 200 de pensão dos avós paternos. Sonhando em ser militar ou engenheiro, o menino se diz surpreso com a reação das pessoas à atitude de devolver o dinheiro.
“Na verdade, assim, fico um pouco triste por ser algo que vire notícia. Queria que fosse algo mais frequente. Algumas pessoas estão surpresas por eu ter feito isso, mas eu não entendo, não é motivo para isso”, declarou ao G1. “Quando eu vi o dinheiro, imediatamente eu pensei na situação financeira da minha mãe e do meu padrasto, mas em momento algum eu pensei em tirar aquele dinheiro para mim. Não era meu.”
Lucas chegou a ser criticado por colegas, que o chamaram de “burro” por ter devolvido os R$ 1,6 mil. A mãe diz que o menino ficou triste com a situação e que por isso se esforçou durante o dia para animá-lo.
“Ele perguntou se eu me decepcionei por ele ter devolvido. Passei o dia inteiro lembrando do olhar dele, por causa do xingamento dos colegas. Aquilo me doeu. Mandei mensagem dizendo que eu tinha muito orgulho dele”, conta.